sexta-feira, 6 de julho de 2012

O chiar do momento

A primeira semana de julho está prestes a findar. O dia de hoje amanhece com uma chuva que se estende desde o dia anterior. A chuva, por sinal, que angustiantemente insiste em cair silenciosa... Não há vento forte, e sequer raios ou trovões. Há, simplesmente, o chiar dos pingos que escorrem pelas paredes da rua vazia. Um dia incomum para abrir os olhos espontaneamente, visto que os últimos contavam com um incômodo martelar incessante logo cedo, somado a todos os terríveis barulhos de uma metrópole pós-moderna. 

Ainda assim, não é apenas a chuva que insiste em chiar. Chiam também, intrinsecamente, novos rumos. Rumos improváveis, porém encaminhados. O grande problema de quaisquer chiadeiras é a impossibilidade de se compreender com total segurança o seu verdadeiro sentido. O chiar angustia por sua falta de precisão. O chiar é incômodo, principalmente quando se tem pressa em desvendá-lo. O chiar, aliás, que sempre tem de ser desvendado: apesar de previamente parecer uma queixa, na verdade, quando se chia sempre se espera uma transcendência. Ora, chiar é o ato de esperar algo ou alguém para o silenciar.

O chiado do momento tem atordoado. Tudo tem andado conforme o esperado, embora sempre surja um dilema inesperado previamente. O chiado é tão brilhantemente inconveniente que está presente em cada choro musicado. Não me refiro ao choro da infância, mas ao chorinho instrumentado nas vozes mais brilhantes da música brasileira. Recorro, pois, a essas vozes para cessar esse chiado. Ouço-os como quem ouve a um mestre. Ouço-os com a pretensão de encontrar um insigth, de ser surpreendida.

A subjetividade, porém, não deixa espaços para a hipocrisia: ouvir um chiado é retomar um espírito deixado de lado, que traz um senso instigante no dia-a-dia. Bem, e isso, inegavelmente, é muito bom. Encerro com um aviso de Chico Buarque, sobre "um chorinho":

(...)
Meu chorinho não é solução
Enquanto eu cantar sozinho
Quem cruzar o meu caminho
Não pára não

Mas eu insisto
E quem quiser que me compreenda
Até que alguma luz acenda,
este meu canto continua

Junto meu canto a cada pranto,
a cada choro
Até que alguém me faça coro
pra cantar na rua

sábado, 28 de abril de 2012

Outono vago

Convém iniciar uma postagem depois de um logo tempo de esquecimento desses devaneios notavelmente pessimistas lembrando que, desde essa nova fase da minha vida, pouco postei aqui (nada, na verdade). A ideia do blog sempre foi valorizar a subjetividade que me atordoa em certos momentos, então não vou me ater aos detalhes objetivos que me cercam. 

Eis que, acostumada a escrever para compreender a imprecisão dos sentimentos mais vagos e, de certa forma, tristes do meu interior, passo a "travar" quando os momentos de felicidade são imensamente superiores... Há pouco refletia sobre por que razões isso acontece, e encontrei uma singela explicação: valorizo os momentos simples como sinais de felicidade, logo, o objetivo de textualizar a situação complexa inexiste nesses momentos, afinal, preocupo-me mais em simplesmente senti-los do que compreendê-los. 

Mesmo assim, seria uma hipocrisia sem tamanho dizer que tenho vivido longe das situações um tanto quanto incomodáveis. Lá no mais profundo abismo algo tem mandado sinais para que eu despeje qualquer tipo de inquietação, ao menos para que demonstre que existe uma preocupação em resolver aquelas pequenas angústias da vida, quase como que para explicitar que não, nada pode ser perfeito. Só que essa balança natural que costuma proporcionalizar aquilo que é bom diante do que é ruim tem me parecido ter alcançado um equilíbrio desejado.

É como se houvesse um desejo incessante em estagnar os sentimentos para que o equilíbrio não seja atrapalhado. Impossível, diz minha racionalidade. Sentimentos variam o tempo todo, chegam ao seus extremos diariamente e modificam-se sem dar sinais prévios. Um vento capaz de derrubar uma mísera folha para que os pesos desequilibrem a balança. Casualmente, estamos no Outono - caso não tenha ficado claro, as folhas caem deliberadamente nessa estação. Pois bem, lá no mais profundo abismo uma voz paradoxalmente silenciosa parece dizer: vou soprar, vou soprar aquela folha. Aquela folha vai ser soprada e vai cair, em um momento impossível de prever, mas será que afetará a balança?

Que voz é essa que avisa? Que folha é essa que atordoa?

E o mais inquietante: para onde o vento vai levar essa folha?

Talvez seja prudente fazer amizade com o vento...

domingo, 15 de janeiro de 2012

Chega!

Eu particularmente gosto de me expressar de várias formas. Tem a música, a poesia, as frases feitas... Como não sou boa música, não sou boa poeta e nem sempre as frases feitas dizem tudo o que quero dizer, acabo guardando na caixota e deixando para lá.

Aí o tempo passa e a vontade de passar aquilo adianta aumenta. Começo a elaborar formas para dizer: "ei! estou sentindo alguma coisa... Eu não sei exatamente o que é, e nem a forma certa de a descrever, mas ela existe e eu estou sentindo-a!".

E, não, não é um sentimento que eu queira sentir. Também não posso dizer que é um sentimento ruim. Aos meus amigos, para que evitem perguntar, demonstro que tudo está sempre ótimo. Já pararam para pensar como ninguém pergunta o porquê de não estarmos mal? Se estamos tristes, já vem o turbilhão de perguntas: "o que aconteceu?". Se estamos felizes, não nos incomodam. Que maravilha!

Ao menos comigo é assim. Se não fosse, ficaria preocupada. Não me perguntam o porquê de estar feliz porque devo ser uma pessoa feliz. Se vivesse triste, estranhariam o meu momento de felicidade, e não de tristeza. Menos mal, eu diria.

Sempre me perguntei como o verdadeiro poeta consegue transpôr o que sente em um poema com métrica perfeita. Meus sentimentos nunca vêm organizados, para que eu os coloque no papel da forma "correta". Deixar para depois? Ora, depois não são eles. Eu sei que Fernando Pessoa já respondeu a isso...

Enfim, eu sinto algo, e talvez saiba o que é. Embora talvez saiba, o motivo de não querer saber é não querer senti-lo. Ou de não querer senti-lo é não querer saber. E a agitação dos últimos dias se explica com isso: não ficar parada para não pensar. Mas eu fiquei parada, com muito tempo para pensar, e agora pensei e já sei o que é.

Agora que sei o que é, tenho medo de dizê-lo. E se disser e não entenderem? E se disser e me arrepender de dizer?

Acho que não quero dizer mais nada.