domingo, 19 de maio de 2013

O romantismo casual

Incomoda-me que o romantismo propagado tenha forma, seja estruturado. O romantismo só é ideal romântico se corresponder a uma série de expectativas pré-colocadas, como de tempo e de comportamento. 

A começar pelas correspondências de papeis. Com muito custo já conseguimos quebrar os paradigmas de ter de tratar obrigatoriamente de um homem para uma mulher, em que a mulher será a conquistada e o homem o conquistador. Aí conseguimos transgredir a ponto de poder lidar com homens que conquistam e são conquistados por homens; bem como mulheres que conquistam e são conquistadas por mulheres. Enquanto pós-modernxs, estamos hoje trabalhando com a quebra da dualidade, da existência de um casal para a existência de um relacionamento. Surge o poliamor, a possibilidade de uma relação entre muitas pessoas, e já no nome carrega um ideal romântico "amoroso". Abre-se espaço também para o amor livre, em que o relacionamento é aberto e com total liberdade positiva. 

Não há, no entanto, espaço para o romantismo casual. Aquele romantismo que obedece, sim, ao sentimentalismo, mas que não abre espaço para a conquista. Não estamos falando em jogos de poder. Estamos falando de puro prazer. A relação enquanto forma de expressão do prazer; que é momentânea, que não necessariamente fala de amor, mas que igualmente pode ser romântica. Romântica no seu pouco durar, romântica no seu pequeno espaço de ação; romântica intensa, porém já com vistas ao seu término. A conquista exige tempo, exige a existência de um conquistado. A conquista sempre esteve por trás do ideal romântico... Sem conquistado, não há finalidade. Será? Por que o prazer pelo prazer é tão dificultosamente lidado pelos românticos? Por que é tão difícil abrir mão do poder: o poder ser algo sobre alguém, em vez do mero ser?

Aí hão de perguntar: e onde estaria o amor no romantismo casual? A isso Cazuza já respondeu, nos seus versos despretensiosos e escritos por alguma provável casualidade romântica: o nosso amor a gente inventa. Inventa, para se distrair.

Há tantos corpos, tantas pessoas, tantos sentimentos. Permitir-se experimentar as diversas expressões do amor é viver. Ou melhor, é não esperar tanto assim do amor para viver o romantismo. É dormir entrelaçadx e ir embora sozinhx. É não esperar andar de mãos dadas para avançar. É malear-se constantemente. É ser romântico casual... Afinal, o sentimento não é pequeno e tampouco limitado por não ser expresso em tempo durável. Ele será intenso. Será intenso e livre, mesmo na sua casualidade. E não precisa ser amor(!), mas não venham dizer-me que não é romântico. É casualmente romântico, apenas isso e assim. 

   

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Retalhos de uma madrugada

São 5h da manhã. De repente lembranças emergem, caminhos que não foram seguidos, sonhos interrompidos e vidas inacabadas... Está em cada verso, em cada riff melancólico. Em cada poema dramático, em cada vídeo de recordações. Em cada lugar que desperta um sentimento de tristeza, que faz derramar uma lágrima. Em todos esses lugares algum momento retorna... Um momento que não vai voltar mais; um peso que jamais irá embora - não importa o que seja feito. As lágrimas caem, mas o sentimento de dor apenas se ameniza. Já aconteceu antes: não adianta, não vai passar. É uma angústia infinita. O mundo pára e a única questão que importa é "por quê?". Por que esse sofrimento de ter de viver mais do que alguém que amamos? Por que ter de ver alguém ir embora, pra sempre? Pra sempre? Por que pra sempre? Se as marcas não cicatrizam, por que ao menos não deixam de ser doloridas?